quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Depressão e preconceito






                    *Por Mário S. Spinola Júnior

"Agora vou ter que sair, vou levar o Coordenador ao Médico de Cabeça"

A frase acima não é minha, eu a ouvi quando entrava na Secretaria da Escola em que atuava. Era meu amigo. Um professor que me levaria ao Psiquiatra onde eu havia marcado uma consulta. Meu problema era stress, depressão e ansiedade

Já estava em tratamento a mais de um ano. Percebi então qual é o motivo pelo qual as pessoas escondem a doença. Nunca antes havia alguém dizendo que sofria de depressão. E mais, quando disse abertamente que estava com depressão, as maiorias dos amigos proferiram frases como: _ "Que nada, você está bem". "Que depressão, que nada, larga a mão disso."  "Esta doença é da alma". "Isto é uma doença do demônio, você precisa reagir e rejeitar isso". "Ah, você não é evangélico? _Evangélico não podem ter depressão!". Estas foram as frases que ouvi e ouço até hoje, entre outras.

Reflita comigo. A começar pela frase que diz que evangélico não pode ter depressão, eu particularmente acho que não só o evangélico, mas também o católico, o espírita, outra religião ou seita qualquer, e o ateu também não deveria sofrer de depressão. Eu que tenho lutado muito contra este mal, torço para que nenhum ser humano tenha stress, ansiedade ou depressão.

Diante de tanto preconceito, fiz questão de não esconder de ninguém quando descobri que estava com depressão, ansiedade e muito stress. E olha que muitos que já sofria do problema e escondiam se encorajaram e me contaram que também estava sofrendo deste mal que assola a humanidade neste mundo agitado atual. Inclusive alguns que diziam que eu estava bem e não tinha a doença da alma.

Descobri também que em meu trabalho tem muito adolescentes, jovens e pais que aparecem totalmente deprimidos. Sendo que alguns deles até expuseram seus dilemas.

Em uma de minhas conversas disse a uma amiga que achava que as pessoas que sofrem desse mal deveriam se reunir para conversar entre si e desabafar. Afinal, todos têm sintomas idênticos. Poderia ser algo parecido com os Alcoólicos Anônimos. Minha amiga sorriu animada e disse que se tivesse ela seria a primeira a integrar ao grupo.

Há um grande preconceito em relação às pessoas que sofrem desse mal. A verdade é que as pessoas estão sofrendo ainda muito mais devido a este preconceito que existe em relação ao doente com depressão. Quando se diz que vai ao médico psiquiatra, é comum ouvir a frase dita pelo meu amigo “ele vai ao médico de cabeça”. Ou ainda, “ao médico de louco”, ou “médico de doido”.

Para aqueles que nos rodeiam, assim como disse o meu amigo. Ir a um psiquiatra é o mesmo que dizer que está louco ou doente da cabeça. Já para um grupo de cristãos fanáticos, a depressão é o demônio trabalhando na mente de alguém, ou mesmo possuindo as pessoas.

Enquanto isso, os doentes sofrem de medo, se escondem, se isolam, perdem a fé e evitam aproximar de quem mais ama. Cada vez mais vai perdendo a confiança nas pessoas. Tem medo de quase tudo, inclusive de ser discriminado pelas pessoas mais próximas. Não culpo ninguém por isso, entendo que isso acontece porque quem está próximo de uma pessoa deprimida não sabe nem como ajudá-la, e nem mesmo que a maneira como elas agem estão prejudicando aquele doente. Não sabem também que estão agindo de maneira preconceituosa.

Mas o que é depressão? O que é a depressão?
A depressão é uma doença caracterizada por um estado de humor deprimido. A pessoa fica angustiada, desanimada, sente-se sem energia e uma tristeza profunda, às vezes acompanhada de tédio e indiferença. Quando os sentimentos são muitos e confusos, o indivíduo pode ter a impressão de que não tem sentimentos. As atividades normais do dia-a-dia passam a não ter mais importância e a pessoa passa a encarar até as tarefas mais simples como se fossem um grande esforço.
A vida perde a cor e a pessoa perde o interesse por tudo, inclusive seus hobbies preferidos, amigos e até o sexo. Há mudança do apetite (que pode aumentar ou diminuir), alterações do sono (sendo mais comum a insônia). Geralmente a pessoa deprimida prefere ficar isolada, num lugar onde possa ficar só. Assim, doença interfere com o trabalho e a vida da pessoa, podendo mudar até a maneira como o indivíduo pensa e/ou age.
A doença se manifesta quando há uma alteração na comunicação entre as células cerebrais, os neurônios, causando um desequilíbrio químico-fisiológico. Essa comunicação é realizada por substâncias chamadas neurotransmissores. No caso da depressão, são importantes duas dessas substâncias: a serotonina e a noradrenalina. Elas estão envolvidas em todos os processos responsáveis pelos sintomas da doença.( Assim está definido no Sítio Boa Saúde).

A idéia pré-concebida (o preconceito) sobre depressão não ajuda em nada uma pessoa portadora desta doença. Ao descobrir que meu médico psiquiatra era evangélico e palestrante influente em sua Igreja, perguntei a ele se depressão era possessão demoníaca. O mesmo me disse que era uma doença qualquer que precisava ser tratada e que tem cura. Daí comecei a pesquisar sobre o assunto, como o leitor deve ter observado neste Blog.

É importante observar que não sou médico, nem psicólogo ou terapeuta. Sou apenas um cara que sofre deste mal, e que, desesperadamente busca a cura a cada dia. Neste caso continuarei a escrever sobre meus pensamentos, angústias e esperanças sobre o assunto. Se você quiser compartilhar comigo, basta comentar aqui mesmo no Blog, ou me enviar sua opinião, crítica ou ajuda para mario.spinola@hotmail.com. Se tiver sofrendo com o problema acho que posso ajudar com minhas experiências, se já teve depressão e superou você pode ajudar, e se está preocupado ou curioso e quer falar sobre o assunto, por favor, se manifeste. E mais, gostaria que pais, professores, líderes religiosos começassem a observar mais as pessoas com as quais vivem ou convivem. Pode ser que tem muita gente sofrendo deste mal e precisando de sua compreensão e ajuda.


Em outra oportunidade voltarei falando mais sobre o assunto e dando dicas de como perceber se está ou não com depressão, e de como seria possível se livrar desta doença terrível. Sempre lembrando que não sou médico, psicólogo ou qualquer terapeuta. Sei que posso ajudar apenas com as minhas experiências. E que Deus nos ajude.




*Mário S. Spinola Jr. É licenciado em Pedagogia, Ciências Naturais e Matemática/Química. Pela UFM. Já atuou como Jornalista no Interior de Mato Grosso. Professor na Rede Pública Municipal e Estadual a mais de trinta e dois anos. – Pós graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela AVC  e passa por tratamento  de Depressão e Ansiedade a cinco anos..



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