23/10/13 - 07:18
POR GIOVANNA BALOGH
POR GIOVANNA BALOGH
Mulheres atendidas em hospitais
públicos de São Paulo sofrem mais de depressão pós-parto do que as que deram à
luz em unidades particulares. A conclusão foi feita após um estudo realizado
por professoras do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) e
do Instituto de Saúde de São Paulo.
O levantamento comparou essas
mulheres com outras gestantes de classe média alta e alta que tiveram o parto
realizado em um hospital particular da capital paulista. Segundo o estudo, 28%
das atendidas no Hospital Universitário da USP, na zona oeste de São Paulo,
apresentaram depressão pós-parto. O número é cerca de duas vezes maior que a
média mundial descrita na literatura científica, que varia entre 10% e 15%. Na
rede particular, apenas 8% tiveram sinais de depressão.
Análises feitas durante o estudo
mostram que os principais fatores de risco para o desenvolvimento da depressão
pós-parto são: ocorrência de depressão anterior (depressão antes da gestação),
relação ruim com o parceiro e falta de apoio familiar.
Tania Lucci, uma das pesquisadoras da
USP, diz que a depressão puerperal acontece principalmente em quem não
tem auxílio de outras pessoas como, por exemplo, alguém para dividir os
cuidados com o bebê ou ficar com as tarefas domésticas. “O estudo mostrou que
na rede particular, as mulheres têm mais escolaridade e consequentemente mais
recursos e apoio social,” diz.
As pesquisadoras recrutaram
inicialmente 400 gestantes atendidas em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro
do Butantã, na zona oeste, e cujo parto estava previsto para acontecer entre
setembro e dezembro de 2006 no Hospital Universitário. Destas, apenas 257 deram
à luz na unidade e foram incluídas no estudo. Já na rede privada, foram
entrevistadas 268 mulheres.
As mães da rede pública foram
acompanhadas até a criança completar três anos. Nos primeiros meses de vida do
bebê, elas responderam a um questionário chamado de Escala de Depressão
Pós-Parto de Edinburgh. O levantamento não tem valor como diagnóstico,
mas oferece uma aproximação indicativa de sinais de depressão. No questionário,
entre as perguntas estão se a mulher se sente feliz e se sente ‘esmagada pelas
tarefas e acontecimento do dia-a-dia’, entre outras perguntas.
As mulheres atendidas pela rede
particular foram entrevistadas durante a internação no hospital e depois entre
dois e quatro meses após o parto, onde também responderam ao mesmo
questionário.
Além da grande diferença de depressão
pós-parto na rede pública e privada, o estudo mostrou que a idade da mãe, a
escolaridade, o número de visitas pré-natal e de cesarianas foram maiores entre
as mulheres que tiveram seus bebês na unidade particular.
Além de se considerarem ‘piores
mães’, as mulheres com depressão disseram que o ‘bebê dava muito trabalho’, que
tinham dificuldades no cuidado com a criança e ainda que eram impacientes e
dedicavam menos tempo ao filho.
DESENVOLVIMENTO DO BEBÊ
O impacto da depressão puerperal na
relação mãe-bebê e o desenvolvimento da criança foi avaliado com mais detalhes
no estudo com as pacientes do hospital público.
Ao avaliar as mães e os bebês quatro
meses após o parto, foi notado que os bebês procuravam menos o olhar da mãe que
tinha sinais de depressão, mas não foi notada diferença em outros
comportamentos do bebê nesta faixa etária.
Já aos 12 meses, os filhos de mãe com
depressão apresentaram desempenho pior em algumas tarefas indicativas de
desenvolvimento motor, mas melhor desenvolvimento oral. Para as estudiosas,
isso ocorre porque a criança tem mais necessidade de se comunicar para chamar a
atenção de outras pessoas ao seu redor.
Aos 36 meses, foi notado que o filho
de mãe com depressão pós-parto ignora mais os pedidos maternos como, por
exemplo, interromper brincadeiras e ajudar a guardar os brinquedos.
APOIO FAMILIAR
A psicóloga Patrícia
Bader, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital São Luiz, diz que
a família é quem pode notar os primeiros sinais de depressão puerperal. “
Em geral a mulher apresenta sinais de tristeza, desânimo, irritabilidade e
inquietação”, explica (veja quadro).
A recomendação é que a família
procure ajuda especializada. “É importante . entender que a puérpera não
tem a intenção de ficar desse jeito e que seu afastamento não é sinal de
desamor.” Patrícia explica que um médico vai poder identificar se é realmente
depressão pós-parto e não apenas baby blues, que é uma alteração de humor
passageira que normalmente acontece nos primeiros dias após o nascimento do
bebê. Esses sintomas tendem a desaparecer em até 15 dias.
Mulheres com baby blues não deixam de
realizar as tarefas exigidas pela presença do bebê. “Muitas vezes a privação de
sono, em decorrência da rotina do recém-nascido, contribui para o quadro”,
comenta.
Já no caso da depressão, a psicóloga
explica que muitas vezes a mulher deixa de cuidar e teme pelos cuidados em
relação ao bebê. “Ela pode tanto impedir a presença de outros, temendo que
façam mal para o filho, quanto delegando por completo os cuidados a terceiros”.
Nesses casos, diz Patrícia, a
avaliação médica para definir o uso de medicamentos e o acompanhamento
psicológico são fundamentais. Os remédios, quando necessários, são prescritos
para que não haja prejuízos para o bebê durante a amamentação.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário